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RUMO AO CORRENTE
RUMO AO
CORRENTE
Autor: Manoel Cruz
A vila de Porto Novo está
situada à margem esquerda do rio Corrente, ao Norte da Serra das Porteiras, 48
km, de Santana e a 54 km, de Santa Maria da Vitória.
Seu nome antigamente chama-se
Curral Novo, tomado de um curral construído nos arredores, por Chico Rico, para
amansador de gado. A propósito do primitivo nome da Vila, conta se que um filho
de Chico Rico fora procurar fortuna em São Paulo, onde permanecera por largos
anos. Ao voltar verificou que muitas transformações tinham se efetuado na vila.
Certa vez para mostrar quanto a
convivência de São Paulo havia produzido na sua rusticidade ribeirinho,
procurou o estabelecimento comercial de Raimundo Luiz Ferreira, então sócio do
Coronel Moisés Martins de Oliveira para a compra de uma garrafa de querosene. Explica
Raimundo Ferreira que naquele momento faltava-lhe o artigo, ao que Inocêncio,
supondo que seu interlocutor ignorasse o que fosse querosene, respondesse;
“Talvez o senhor ignore que querosene é o mesmo que gás”! E Raimundo Ferreira a
quem não faltava a presença de espirito. Disse-lhe numa ironia fina: “Sim,
Inocêncio, quando você saiu isso aqui se chama Curral Novo, porém, chama se
Porto Novo. A criação do Porto data mais ou menos de sessenta anos.
Fazia-se anteriormente o
embarque e desembarque de mercadorias em Bem-bom, a margem esquerda do
Corrente, pouco abaixo da fazendo de Abílio Antônio de Oliveira.
É inacreditável, mas no passado
Porto Novo, fora um verdadeiro cérebro comercial da região, havia aqui um
movimento fabuloso que gerava muita riqueza e com isso a pequena vila se
prosperava e já tinha um presente estável economicamente, e fazia se planos
para o futuro, até que um plano perverso e ousado, traçado pelos coronéis
santanenses da época, deu fim ao desenvolvimento da tão prospera Porto Novo.
Toda produção madeireira de
Penamar, e outras cidades do além Rio Corrente fazia-se em carro de boi,
atravessando a casa velha da Fazenda Missão e desembarcando-a em Bem Bom.
Sabe-se que a fortuna de várias pessoas, como: Serapião e Clementino Nunes dourado,
fora obtida no comercio de madeira feito por esses antigo meio e caminho de
acesso o rio corrente. Posteriormente com o florescimento do comercio com o
Brejo e em consequência das construções que foram surgindo em Curral Novo, o
porto de Bem Bom foi abandonado e utilizado o de Curral Novo que passou a
denominar-se PORTO NOVO DO CORRENTE, por concorrência ao porto de Santa Maria
da Vitória município circunvizinho.
A Vila de Porto Novo, é até hoje
por obra da natureza servida pela via natural de transporte o rio corrente, que
também serve os municípios de Santa Maria da Vitória, São Felix do Coribe,
Serra do Ramalho e Sítio do Mato, vindo a desaguar no Rio São Francisco já no
Município de Bom Jesus da Lapa. Com Santana, sede do município, o acesso era feito
até 1900, mais ou menos por um trilheiro, quando o coronel Francisco Joaquim
Flores autorizou a abertura de uma estrada carreteira que ficou conhecida como
a estrada da rapadura.
Tal estrada, foi o caminho entre
Porto Novo do corrente e Santana dos Brejos por vários anos; até que se
inaugurou a estrada rodoviária, que se não fora construída sob condições
técnicas favoráveis pelo menos serviu para encurtar distância e quebrar a
monotonia e isolamento a que Porto Novo ficou sujeita em virtude da mudança da
estrada da rapadura para Sítio do Mato.
O escoamento de toda produção do Brejo era feito
através do rio corrente por meio de embarcações denominada VAPOR o Saldanha,
foi o primeiro de uma série a realizar a façanha de fazer a primeira carreira
do Rio Corrente: com ele se criou em Porto Novo vários órgãos públicos como a
agência dos Correios, esse formidável meio de comunicação para todos nós. As
malas do correio eram transportadas a cavalo pelo saudoso João Gomes da Silva,
missão pela qual desincumbira com zelo e honestidade. Havia em Porto Novo na é
poça, um campo de avião que permitia a aterrissagem de pequenas aeronaves, a
agência dos Correios e telégrafos e algumas outras instituições públicas que
desapareceram misteriosamente com o passar do tempo. Porto Novo tinha alcançado
estrutura suficiente para tornar-se uma grande cidade, mas por conta da mudança
de todo movimento do comercio, para Sitio do Mato, a pequena vila caiu-se num
imenso buraco negro, e sofre até hoje as consequências, furto do abuso de poder
dos homens públicos de Santana que diziam representantes do município e do
povo.
A FÊNIX DA FÁBULA
A situação de prosperidade de
Porto Novo como entreposto comercial reservado a firmar o intercâmbio entre
Santana e as praças de Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e outras, viera
sofrer súbito colapso quando, por ato por todos os títulos condenáveis e que
não deve ser esquecido, ato sem sentido prático ou objetivo econômico,
desviou-se o volume da produção agrícola do brejo para o porto de Sítio do Mato
que na época era parte integrante do município de Bom Jesus da Lapa, vindo a
emancipar-se no ano de 19 de julho de 1989 deixando à margem e abandonado o
nosso Porto Novo do Corrente.
Encarado o fato sem maior exame,
abstraindo-se de considerá-la nas devidas proporções, quanto ao tempo e ao
espaço, a preferência de um porto comercial por outro, em município vizinho,
apresenta uma inovação atraente. Olhada, porém, do ângulo da realidade,
percebe-se que a mudança em questão era consequência de um plano comercial
amadurecido, só sentido pelo desastroso resultado trazido a economia do
município e da própria vila, que se tornou isolada e esquecida, vivendo pela
teimosia dos seus próprios habitantes. Além disso a mudança de Porto não tinha
por objetivo solucionar o problema da distância, tão pouco a necessidade de um
porto melhor e mais segura, mas disfarçava um golpe comercial de envergadura.
Realmente um abalo econômico de
Porto Novo, quando se operou a mudança de caminho de sua produção, era de vulto
a não se confiar na sua sobrevivência. Executaram-na quando a vila
encontrava-se florescendo, tendo adquirido, entre nós, foros de distinção a
ponto de, reivindicando para si o primado econômico, julgava-se com direito de
ingerir –se nas questões políticas. Daí se explica a atividade partidária de um
Sr. Muito conhecido entre os mais idosos, de nome Honório José Alves, que da
barranca do rio como trincheira, despedia petrados contra a situação dominante.
Referindo-nos a mudança do caminho
da rapadura, queremos salientar que a mesma não se efetuara com apoio em nenhum
fator geográfico nem se baseava em razões econômicas. Ao contrário, era produto
de um plano ousado para solapar o comercio da vila, cuja intenção fora
inteligentemente conseguida, tendo contribuído para isso o silêncio de tanto
dos santanenses como dos homens de Porto Novo.
Como todas as iniciativas
calculadas, a mudança em foco fora precedida de propaganda organizada, dando
importância a preferência. Vingado o amaciamento da opinião pública, sem
barulho, sem recriminações, era fácil ao astuto idealizado da mudança em
segunda etapa, a mais perigosa e justamente a que lhe interessava esmagar o
capital organizado da vila tentativa que não encontraria nenhuma resistência,
deixando os comerciantes distanciados da produção e, com o fator atividade,
melhor dito esperteza a base de confiança, que encontrara entre os agricultores
do brejo, terra limpa e fresca, estaria praticamente liquidado todo o comercio
de Porto Novo, mesmo porque nenhum dos comerciantes da vila teria a lembrança
de se transferir para o brejo para a “cabeça-de-ponte” de uma concorrência
emparelhada ao novo caminho, mas mesmo assim, houve várias famílias que
abandonaram Porto Novo, ou seja trocaram-na pela cidade de Santana e de certa
forma deram-se muitíssimo bem economicamente.
Os homens de Porto Novo, que
assistiram de braços cruzados à audaciosa armadilha reservada ao deslocamento
do comercio de um porto para outro, tinham os olhos cobertos pela poeira das
paixões políticas cultura arcaica existentes nas pequenas cidades
principalmente do nordeste; e por isso não estavam suficientemente calmos e
conscientes para compreenderem a ratoeira em que se deixaram cair, nem senhores
de si mesmo, com a presença de espírito devida, para darem o grito contra tal
golpe político ao seu interesse, que também era comum ao município.
O progresso, entretanto, obra
como os fatores externos de índole geográfica, num processo seguro e lento,
vencendo o tempo e abrindo caminho nas montanhas, operando o prodígio
mitológico de, como a Fênix da Fábula, Porto Novo vir a erguer-se das cinzas.
Nota: Na administração do Dr.
Francisco Flores, fora construída a rodovia Santana – Sitio do Mato, ligação
que era um imperativo do intercâmbio com as cidades sanfranciscanas e outras.
Nunca, entretanto, se pensou em
deslocar para Sitio do Mato o peso da produção do brejo. Só posteriormente se
deu execução a esse malfadado plano, que teve início com a construção de
armazéns de carga em Sitio do Mato. Enquanto não se consolidou a mudança do
caminho não se procedeu à construção da rodovia Santana Porto Novo.
A emoção-choque produzida no
povo de Porto Novo em decorrência da mudança do porto de embarque para Sitio do
Mato, é uma dessas feridas tão profundas que não podem ser cicatrizadas
facilmente. E com muita razão, pois se aquela gente brava e ativa faltassem as
reservas morais, aquele espírito de combatividade e constância, que foram como
que a muralha inexpugnável anteposta à rendição incondicional, então seria o
caso de descrermos do homem e rebaixarmos a zero todo o tesouro de experiência
encofrado pela psicologia moderna.
Daí a razão, que muitas vezes se
manifesta acerca, de lançarmos nossa condenação ao imperdoável desamor à nossa
terra e à nossa gente, apontando fatos que nos pareçam e fazendo causa comum
com o povo, na certeza de que, se não lhe podemos matar a fome ou inimizar-lhe
o sofrimento, ao menos possamos consola-lo na adversidade e nos desencantos.
Explicação nenhuma pode ser
oferecida a esse distanciamento da coletividade, deixando-a sozinha em momento
difícil, sem qualquer interesse em pulsar-lhe as aflições ou solidarizar-se com
seu restado de penúria.
Se apreciarmos com isenção de
ânimo o golpe desfechado contra a então próspera Porto Novo e contra os
interesses sagrados do município, que o foram, chegamos a ver, sem o auxílio de
lentes de aumento, que nossa gente da cidade como do campo está entregue a
própria sorte, estando perfeitamente aforada, como verídica, a canção popular,
ao menos entre nós, de que “O pobre vive de teimoso”.
Nessa divagação à caça dos
sintomas e causas de tantos problemas sociais que aflige quase 80% da população
do nosso município, encontram-se razões, exatamente no descanso incompetência e
desamor as coisas públicas.
O princípio governamental de que
o homem público deve promover o bem estar do povo, tornou-se expressão
lucrativa e vazia de sentido. Ainda, infelizmente encontra-se no setor da
administração, o enquisilamento pela rotina, teimosia, gosto pela reprodução das
mesmas cenas e adoção das mesmas medidas. Há muitos lustros se conhece a
atividade do poder público municipal em resolver a presença de porcos,
jumentos, bovinos e outros animais no perímetro urbano da cidade. Entretanto
todos esses animais, ainda hoje perambulam pelas ruas da cidade. É possível que
administrar ou gerir os negócios públicos consiste apenas em receber impostos
ou multas, ou em promover medidas tendentes a solução dos problemas mais
palpitantes do povo?
Não se precisa ir tão longe para
informar-se de quanto pesada é a barra de chumbo amarrada aos pés da
administração, que tem enormes dificuldades de enfrentar com decisão os
problemas do município. Se ações tão simples como a retirada de animais das
ruas, imagine os demais problemas.
Então eu lhes pergunto; há algum
interesse pela causa pública? Positivamente, não. Como pode ser explicada a
transferência para Sitio do Mato o peso da produção do Brejo, desviando-a de
Porto Novo e do município de origem?
Qual o resultado prático que
teve a construção da estrada da carreteira que por dezenas de anos, serviu de
caminho civilizado?
O impatriotíssimo, só praticado
pela ojeriza às coisas de nossa terra, poderá ser justificado em que por Sitio
do Mato passavam vapores de grande porte que faziam a carreira por todo alto e
baixo São Francisco e que os vapores que cruzam as águas do Rio Corrente são de
pequeno porte e não teriam a regularidade dos vapores que singram o São
Francisco, por isso haveria praça para o embarque dos produtos do município.
Esse argumento é falho. Para manter a navegação do Corrente o governo jamais
negou na época, a subvencionar as empresas que exploravam o comercio do
transporte, preferindo carregar o orçamento com gastos dessa natureza a deixar
o povo isolado.
Verifica-se o contrário ocorria,
com as mercadorias de Porto Novo, que nunca ficavam sem praça nos vapores em
Sitio do Mato, apesar dos inúmeros navios que faziam a carreira, no entretanto
nem sempre havia praça para as mercadorias do brejo; é que os vapores de grande
porte, cortando as águas do São Francisco, serviam a muitas praças, ao passo,
que os poucos que faziam a linha do Rio Corrente, posto não tivessem a
regularidade dos primeiros, sempre saiam lotados, nunca deixando carga para
traz. A verdade disso é que os vapores que subiam até Santa Maria da Vitória
eram mais do que suficiente para se manter em dia todo o transporte de
mercadorias produzidas em ambas as margens do Rio Corrente.
Assim, Porto Novo ficou por anos
como praça morta e sua população, prejudicada no comercio de rapadura, na qual
cifrava toda sua atividade e economia, foram obrigados a procurar, para
sobreviverem, outro gênero de vida na agropecuária.
Compelido pela inclemência da
terra e do clima, há cerca de um século registrou-se o primeiro movimento de
massa, que saindo de MACAUBAS/BA e municípios circunvizinhos, deveria formar no
brejo a primeira aglomeração humana, matriz das gerações de hoje, e formadora
do município de Santana.
Todos os deslocados tinham uma
afinidade comum de interesse; assentaram a tenda de trabalho à beira d´água
permanente, fugindo ao drama das secas periódicas. E trazendo para aqui,
marcados na própria carne, a experiência de dias incertos, revelam no seu todo
somático e moral a valentia contra o meio físico, a constância no trabalho, o
desejo de progredir não tardando, como os romanos, a reunir em núcleo, a
construir prosperidade e consagrarem-se a cultura da cana-de-açúcar.
Pela riqueza das terras situadas
à orla dos riachos verificamos que todas elas se prestam admiravelmente à
cultura de todas gramíneas do arroz às espécies forrageiras; o feijão, o milho
a mandioca a melancia o amendoim o melão e a cana-de-açúcar, da qual a rapadura
é extraída.
A zona onde se desenvolvera a
cultura da cana-de-açúcar fora batizada com o nome de “BREJO” e por “BREJEIRO”
a população que vivia na área da cana-de-açúcar.
Por ser mais lucrativa, porque
mais procurada, a cana-de-açúcar, foi se alastrando de modo que, a mais de um
século, o produto não só bastava ao autoabastecimento, como procurava caminho
para seu escoamento, o primeiro sintoma de expansão econômico do brejo. Foi
nessa emergência que o Coronel Francisco Joaquim Flores, líder político de
nome, ocorreu a luminosa ideia de transformar os trilheiros que ligavam Santana
a Porto Novo em uma estrada da civilização, porque se espertávamos o derivado
da cana-de-açúcar, pelo novo caminho recebíamos, através da estrada liquida o
rio corrente, as mercadorias, o correio, o viajante, a moda o comercio de
cultura e ideias, o que fazia de Porto Novo o cérebro de Santana.
Se perguntar a uma pessoa que
vivera nessa época, certamente lembrará com saudades a chegada de João Gomes,
montado em sua mula escura, pelo de rato, trazendo à garupa as malas do correio
e, quando no perímetro da cidade, era saudado e recebido em festas pelas
novidades que trazia. Aquele apinhamento de homens, mulheres e crianças à volta
da casa de José Abobara, aquele tempo, que para muitos fora de glória e
felicidades.
Porto Novo se formou, assim, por um imperativo de
natureza econômica, o caminho da RAPADURA, baseando nesta toda sua atividade
comercial, desinteressando-se pela lavoura, raramente cuidada na barranca do
rio, após a vazante, por isso que pedia tudo ao Brejo, desde a farinha o
feijão, o arroz e a rapadura.
Prezado Uilton, como consigo contato com você. minha família é originário de Porto Novo. Sou bisneto de Herculano Batista Nepomuceno.
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